Estamos assistindo a acontecimentos dolorosos que tem em
comum a manifestação brutal da violência. No Rio uma menina de dezesseis anos foi
estuprada por vários homens; na madrugada do último domingo cinquenta pessoas
foram mortas em Orlando enquanto divertiam-se em uma boate frequentada por
homossexuais.
Não bastasse a brutalidade em si, ainda abre-se espaço
para debater as possíveis razões que levaram a tais acontecimentos. Seria a
menina parte do grupo, acaso ela costumava frequentar a favela onde o estupro
ocorreu? E no caso da boate americana, seria o matador homofóbico ou o
assassinato em massa foi um ato terrorista? A divulgação da noticia faz eclodir
outra manifestação, tão irracional quanto, da violência que não está no outro,
mas em cada um de nós.
No dois casos observamos um confronto de
irracionalidades. Em relação ao estupro há de um lado os que acusam a garota de
ser “merecedora” do que ocorreu, uma vez que o comportamento dela deve ter
contribuído e muito para esse desfecho!! Do outro lado um levante feminista
contra os homens, como se todos os representantes da espécie masculina fossem
porcos selvagens prontos para atacar as mulheres. O desprezo e o ódio pelo
gênero oposto parecem caminhar em ritmos semelhantes.
Em relação ao assassinato em massa vemos o mesmo show de
horrores nos comentários postados. Se a motivação foi homofóbica há quem apoie
a eliminação das diferenças no extermínio (acho que já vimos esse filme), e
novamente o raciocínio da vitima como “merecedora” do ataque se faz presente.
Quando considerada a hipótese de terrorismo surge o ódio em relação aos
imigrantes, como se todos os que deixam seu país de origem fossem porcos
selvagens prontos para atacar o mundo. E assim reeditamos na repetição da
consciência que, como humanidade, não conseguimos adquirir, personagens
sombrios da nossa historia, como Ku Klux Klan, Adolf Hitler entre tantos
outros.
A imagem que me vem a cabeça é da humanidade percorrendo
um patamar da espiral da evolução: damos a volta inteira e, quando regressamos
ao ponto de origem deveríamos ter arrebanhado consciência e energia amorosa
suficientes para ascender para uma oitava superior. Como falhamos nisso,
percorremos novamente o mesmo caminho e repetimos as mesmas experiências.
Revisitamos os mesmos velhos personagens, os pensamentos e emoções repetem-se e
continuamos na mesma frequência vibratória, na mesma energia.
Apontamos o dedo para a violência do outro: dos homens estupradores,
dos homofóbicos, dos terroristas. De fato são eles porta vozes do que há de
pior no ser humano, da sombra que resiste à
possibilidade da luz, da doença que não se rende à cura, da
inconsciência que se nega a evoluir. Mas a violência não está só neles, não é
privilegio de um ou outro ser humano. Fazemos parte do mesmo grupo, somos a
mesma raça humana, e talvez o que difere entre nós seja a vontade de realizar
um trabalho interno que nos aproxime do aspecto divino. Ou, para quem não
partilha dessa crença, um trabalho interior a serviço do bem.
Fico chocada diante dos fatos e também diante de como
algumas pessoas reagem a esses fatos. O ódio que gera ódio é um sistema
destrutivo que se auto alimenta, e generalizações são perigosas porque faltam
com a verdade. Seria um erro iluminarmos meio campo e acreditarmos que aquele é
o campo inteiro.
Dá vontade de acabar com tanta violência, não dá? E o que
fazer? Talvez a resposta seja fazer o que está ao nosso alcance, o que é
possível. Trabalhar a violência que há em nós, nas ralações que estabelecemos
com os outros. Trabalhar nosso aspecto julgador, preconceituoso, terrorista,
inconsciente.
É necessário ser a mudança que queremos ver no mundo,
então mãos à obra porque há muito para ser feito!!
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